30 de jun. de 2007

tempos mineiros cheios do tudo de bom

cachaças íntimas

amores reunidos

chorinhos com os senhores mais lindos

turistagem de sorriso tímido

e as doninhas em montanhas,
ar com cor de friozinho.

13 de jun. de 2007

Não seria a Jerusa uma performer dentro do sentido da Performance Art?

As performances urbanas

e sua influência no processo criativo

do dançarino contemporâneo

Ana Moura de Oliveira

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A palavra inglesa performance "surgiu" em 1531, ela vem do verbo em inglês to perform 'alcançar', 'executar', do francês antigo parfourmer 'cumprir, acabar, concluir'e de former 'formar, dar forma a, criar' e, do latim formare 'formar, dar forma'. Na arte ela é empregada de maneira muito diversa, pois, ela pode significar tanto o desempenho do artista durante um trabalho, quanto dar nome ao segmento artístico – Performance Art. A palavra performance pode também ser utilizada para designar uma ação voluntária ou não.

Ao dizer performances urbanas me refiro a toda e qualquer ação executada por um corpo, humano ou não, dentro de um espaço delimitado denominado cidade – 'aglomeração humana de certa importância, localizada numa área geográfica circunscrita e que tem numerosas casas, próximas entre si, destinadas à moradia e/ou a atividades culturais, mercantis, industriais, financeiras e outras não relacionadas com a exploração direta do solo '. Para desenvolver este tema me "limito", neste momento, a um objeto muito específico, porém, afirmo que As performances urbanas e sua influência no processo criativo do dançarino contemporâneo é um debate muito mais amplo do que apresentarei no decorrer deste ensaio e, pretendo dar continuidade numa outra ocasião.

Para desenvolver minha idéia de performance urbana terei como objeto principal a loucura na cidade, esta palavra do século XV é aplicada para denominar 'um distúrbio, alteração mental caracterizada pelo afastamento mais ou menos prolongado de seus métodos habituais de pensar, sentir e agir'.

Desde 2005 observo Jerusa, uma dita louca pela sociedade em geral, uma senhora de aproximadamente 80 anos, de pele clara, cabelos grisalhos, estatura baixa e aparência performática. Ela "cumpre" diariamente um percurso determinado numa parte da cidade de Salvador, esta pode ser considerada uma sub-cidade, pois se enquadra a todos os requisitos vistos no significado da palavra cidade, se chama Corredor da Vitória, localizado entre a praça Campo Grande e a Ladeira da Barra. Jerusa me chama atenção todas as vezes que tenho a sorte de cruzá-la em meu caminho, pelo fato de, estar sempre carregando muitos objetos (livros, revistas, sacolas, etc), estar vestida de maneira muito particular, estar sempre sozinha, conversando muito e sempre bastante contemplativa. Este verdadeiro fascínio por esta "figura da cidade" sempre existiu por parte da minha amiga e, também, aluna da Escola de Dança da UFBA Jaquelene Linhares e muito compartilhamos sobre este tema, e eis que surge a questão:

Não seria a Jerusa uma performer dentro do sentido da Performance Art (forma de arte colaborativa onde existe uma fusão de diversas linguagens como pintura, cinema, vídeo, música e dança, em que o artista atua com inteira liberdade e por conta própria, na maioria da vezes, criações de sua autoria) ?

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Ela atribui milhares de significados ao que ela carrega, uma vez ela nos disse:

Ana e Jaque: _Nossa Jerusa, que xale lindo!

Jerusa: _Ele é feito de tripa de macaco.

... e foi embora, num outro dia perguntamos:

Ana e Jaque: _ E aquele seu xale vermelho, onde está?

Jerusa: _Ah, meu xale bordeaux, não é vermelho, é bordeaux.

...e foi embora.

A partir deste dia eu e Jaque ficamos mais convencidas ainda da possibilidade da Jerusa ser uma performer, pois, para distinguir-se de uma louca faltava a escolha/decisão de interferir no ambiente conscientemente, e foram muitas as suas falas que nos fizeram acreditar na sua plena consciência e tamanha astúcia.

Um outro ponto importante para que uma ação qualquer se torne performática é a presença de espectadores, e no caso da Jerusa acontece também, já comentei com várias pessoas sobre ela e todas respondem admiradas além de atribuir significados pessoais à performance da Jerusa mesmo se a nomeando de loucura, ou seja, ela causa curiosidade nas demais pessoas que também "habitam" cotidianamente o território Corredor Vitória, pessoas que também fazem este mesmo percurso, que falam sozinhas, contemplam e carregam símbolos em seu modo de vestir, mas, que passam invisíveis umas aos olhares das outras, então, por que com a Jerusa é diferente?
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O Encontro

Jaquelene e Jerusa

Inspirada pela imagem da Jerusa e de outras figuras "urbanas", desde 2003 a dançarina Jaquelene Linhares vem pesquisando uma dança própria que ela prefere não enquadrar em nenhum conceito específico de arte. Durante o primeiro semestre de 2007, no Laboratório de Criação 1 ministrado pelo professores Fernando P., Lia R. e o mestrando Pedro Costa , ela desenvolveu um trabalho sólo entitulado "Fulan?", através dele ela questiona: o que é e o que não é dança? Qual é o espaço para a dança? Qual é o tempo para uma dança? Esta dança é minha? E a partir destas questões que sua dança vem, diz ela, e são pessoas como a Jerusa que fazem com que ela tenha tais reflexões, reflexões que são em seguida transformadas em movimento, em ação, em dança ou em que o espectador quiser denominar. E como as súbitas aparições de Jerusa pela vida das pessoas é assim que o trabalho de Jaquelene se dá, uma aparição.
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Ao deslocar a arte dos lugares onde convencionalmente costumamos encontrá-la, cinemas, teatros, museus e centro culturais, para outros espaços como o Corredor da Vitória e, quando deixamos de marcar um horário exato para ela como, por exemplo, sextas e sábados às 21hs e domingo às 20hs e com a duração de 1h15min, acredito que passa a ser uma questão de escolha de quem assiste definí-la como tal.

Segundo depoimentos informais de pessoas que transitam no Corredor da Vitória há mais de 5 anos que a Jerusa faz esse percurso, o que faz com que ela possa ser vista como uma pessoa não-louca , já que loucos são aqueles que estão afastados dos seus métodos habituais de pensar, sentir e agir, e todos com que falamos dizem que ela é assim, ou seja, seus hábitos são estes; e uma possível performer , pois, como na Performance Art o artista tem inteira liberdade, não poderia a Jerusa ter decidido fazer uma performance durante sua vida inteira?

Referência Bibliográfica:

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa,

Instituto Antônio Houaiss, 2001. Editora Objetiva.